Lá pelos meus dez anos foi quando eu ouvi a palavra "amor". Não sei bem porque mas eu sempre ouvia essa palvra com um toque de medo ou de descrença na voz das pessoas, as vezes parecia coisa proibída, "coisa de adulto". Dona Candinha chegava a se benzer quando mamãe e ela falavam do amor que tinha na casa da Celeste e do marido dela. Diziam ser coisa do demônio aquele "fogo" todo. Eu sei que nessa brincadeira o amor virou falta de respeito, abuso, "coisa do coisa ruim", segredo e muitas outras coisas que além de proibídas eram perigosas.
Fiquei sem saber como era esse tal de amor, se tinha alguma forma, alguma temperatura, algum gosto. Seria gostoso? Seria amargo? Não conseguia entender nada. Do amor eu só conhecia o que eu desconhecia dele e isso me deixava inquieta, não durmia, não chorava, não ia nem ajudar minha mãe.
Tratei de investigar e comecei um jogo de "jogar verde pra colher maduro" com as pessoas que eu conhecia, só pra conseguir mais uma informaçãozinha sobre esse tal de amor. Sei que em um dado momento minhas investigações tiveram de parar porque foi aí que apareceu o Robertinho.
Robertinho jogou fora meus materiais e arquivos de pesquisa sobre o amor, ocupou o tempo que a investigação ocupava, me fez esquecer desse tal amor e começar a investigar a vida dele. Larguei dessa mania de procurar amores e fui começar a descobrir coisas do Robertinho. O meu interesse pela temperatura dele, a forma dele e o gosto dele tomaram o lugar das questões sobre as paixões que pertubavam a minha vida.
Faço o jogo de "jogar verde pra colher maduro" com Robertinho até hoje, sou detetive do interior dele, gosto disso. E hoje, lembrando dessa minha busca pelo amor, eu penso que talvez eu nunca vá achar o tal gosto do amor. E talvez eu nem deva achar.
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