sábado, 30 de janeiro de 2010

Hoje é dia de sopa


Já tentei muitas vezes encontrar um núcleo de pessoas que fossem como eu e pensassem como eu penso, quando olho pra alguém que mora na rua. É que eu acho que já cansei de ouvir aquele discurso estranho dizendo: Vamos ajudar esses que moram na rua, mas estamos nos ajudando acima de tudo, elevando nossos espíritos. Acho que isso parece uma falsa caridade, parece que vamos ajudar pra garantir nosso cantinho no céu. Lembra muito o discurso de Voltaire que dizia que era necessário existir pobres para que os ricos chegassem aos céus. Por não concordar com esses discursos que passei um bom tempo sem ajudar os outros, e isso me doía muito.
Encontrar “a turma do sopão” foi algo muito engraçado já que conheci através da minha querida irmãzinha de mentira. E quando fui à primeira vez não ouvi aquele discurso oportunista, nem na segunda vez, e nem na terceira. Depois de perceber que aquilo ali era realmente um sentimento em conjunto de querer ajudar e fazer o bem, eu passei a fazer parte do grupo e sempre encaixo mais alguém.
Minha mãe me contou hoje que enquanto ela dava umas moedinhas pra um menino de rua, sua amiga disse: Ah, hoje eu já não tenho mais culpa. Mas culpa de que? Sabe não faço essas coisas por culpa, não tenho dívida com ninguém, faço porque quero, porque acho que ainda posso viver em um mundo melhor, ou então dar um mundo melhor aos meus filhos. Porque não é minha culpa se tem gente na rua, é culpa da sociedade aonde eu vivo, e pelo menos eu, não consigo ver isso sem fazer nada. Portanto eu acabo tomando parte da culpa sim, e me orgulho disso.
Hoje, no sopão, vimos outro grupo próximo a nós de uniforme, e parecia que eles fariam as mesmas coisas que nós. Só que do nada eles começaram uma espécie de culto evangélico e ficou parecendo que só ganhava comida quem ficasse pro final. Não acho que seja justo se valer da fragilidade e da dependência daquelas pessoas para se pregar algum conceito. Acho que é mais uma das atitudes oportunistas dessa vida.
Sou um “pouco da umbanda”, mas não dou sopa na rua porque a umbanda diz pra eu fazer isso. Acho que faz um bem enorme pra mim saber que estou ajudando, mas também não faço por mim. Faço simplesmente porque acho bom, bonito, porque tem gente que precisa daquilo como eu preciso de tudo que tenho. Ninguém vai tirar de mim a sensação boa que sinto no coração quando escuto um “muito obrigado”, não existe alegria maior que ver aquelas crianças sorrindo quando ganham um pão, um brinquedo. Não é culpa...é só porque tem de ser assim.

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