Chegara bem antes do combinado, sempre fazia assim. Não conseguia chegar muito perto do horário marcado, parecia que ele preferia se machucar olhando as horas passarem lentamente até chegar ao horário dos seus encontros.
Foi direto para a livraria, só lá ele encontrava um meio de amenizar sua agonia, sua angústia, sua ansiedade. Andou por todos os lados do espaço, vasculhou todas as estantes, folheou alguns livros bobos e riu das bobeiras que leu.
Chamou um atendente e perguntou sobre o primeiro título que veio na cabeça. Não queria ler, só precisava se distrair, enganar o seu coração, para que ele não gritasse tanto perguntando pelo outro. O atendente demorou muito para encontrar o livro, mas o achou.
Quando pegou no livro, só conseguiu ler um conto maravilhoso de Antonio Carlos Viana; porque, enquanto seus olhos mastigavam as letras, a sua cabeça imaginava coisas e seu coração perturbava com perguntas: Será que ele vai gostar da gente? Será que ele é bonito mesmo? E se ele não vier? Olhe a hora, ele não vem mais, pode apostar.
Segurou-se para não gritar, se não chamaria a atenção dos clientes e assustaria os livros. Fechou o livro e ficou andando por ali tentando afastar as imagens inventadas e as perguntas bestas. Não conseguiu.
O celular tocou uma vez, e com as mãos tremendo conseguiu atender. Era ele, dizendo que chegaria logo. Puxa, ele iria, não tinha mentido. Para sua surpresa, as perguntas aumentaram e as imagens voltaram com toda a força, não queriam se acalmar.
Precisou comprar uma água para relaxar, estava tenso demais, não conseguia se conter. Bebeu a água em um gole só, e mesmo assim ainda estava nervoso. O horário estava estourando ele ainda não tinha aparecido.
Enquanto olhava para além do vidro da porta, passou perto dele um rosto conhecido, ele então virou-se para ver se era mesmo ele, mas pensou que era só mais uma besteira criada pela sua cabeça. Ignorou. Insistiu com a imagem e olhou de novo; sim era ele. Sua cabeça não mentia tanto assim. Sorriu involuntariamente, e seu sangue pareceu ferver de alegria quando pode abraçar aquele corpo.
Era tão lindo, tão doce, tão tímido, tão cheiroso. Não poderia estar ali, não com ele. Sentiu uma vontade enorme de beijá-lo na frente de todos, mas conteve-se, sentiu uma vontade enorme de apertar sua mão, mas conteve-se, queria sentir melhor o seu cheiro, mas conteve-se.
Enquanto a história se apresentava para os dois, ele só pensava em olhar para aquele rosto que sustentava duas lentes que brilhavam no escuro. De vez em quando puxava assunto, não por educação, mas para poder ouvir a voz dele mais um pouquinho. Só para ter certeza de que estava do lado dele, com ele, ouvindo ele, só ele. Não conseguia sentir mais nada, além do perfume maravilhoso que aquele corpo exalava. Parecia querer provocar.
A história terminou mal, e no fim só conseguiu alguns toques dele. Mas ao se despedirem, ele deixou um presente. Deixou com que ele ficasse para sempre, com a lembrança do seu cheiro.
sábado, 18 de setembro de 2010
O perfume
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